quarta-feira, 1 de julho de 2009

2009-06-29 noite lírica em S. Pedro da Cova






Hoje a música entrou no meu corpo
e devorou minha pele como fogo incontrolado,

Saí de casa e à suave brisa que corria nos campos
entreguei meus pensamentos
comecei a andar na noite,
a Delfina acompanhando o vento,
em passo apressado
como se a lua de nós se despedisse
e em breve escapasse,
saímos disparados para o imprevisto,
caminhando sem pensar,
roçando esquinas de ruas
há muito perdidas nas nossas memorias,
e vagueamos por caminhos de mineiros,
bairros operários onde ainda hoje se sente nas pedras das ruas
o trabalho duro, o esforço pesado e esgotante,
a força inigualável da vontade deste heróis das minas,
presente nos cheiros das casas e nos labirintos das vielas,
as almas dos mineiros que sempre nos acompanharão
seguem-nos com o olhar
iluminando o caminho e as calçadas
para não nos perdermos
tomando conta de nós
e aconchegando-nos nos abraços da brisa serena
embalam nosso orgulho e nossas memórias
Percorremos grande parte de ruas cujos nomes não sabemos,
num passo apressado,
passando por outras ruas e outras casas que a vida abençoou,
chegamos à nossa igreja,
aberta neste dia de S. Pedro,
padroeiro da nossa freguesia,
a porta disparando raios de musica e cor
brilhando nas asas dos anjos
fugindo dos seus altares,
sempre que a voz da cantora lírica explodia no ar,
esvoaçando de prazer celestial
o coração nos convidava a entrar
…um agrupamento dirigido por um maestro da nossa terra,
uma voz feminina fantástica,
anestesiava nossos sentidos
deixando fluir a musica e o sonho
nas melodias que nos arrepiavam
sempre que emprestava a sua voz às notas
que dos instrumentos saltavam

Foi um acabar de noite inesperado e belo.

Sfsousa/olharomar

2 comentários:

Sonia Schmorantz disse...

Gosto quando descreves assim estes momentos especiais, ao ler é como se vivenciássemos também.
Um abraço

EDUARDO POISL disse...

“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”

(Fernando Pessoa)

Desejo um lindo final de semana com muito amor e carinho.
Abraços