domingo, 18 de julho de 2010

esse corpo...


esse corpo
que as cores liberta
num belo arco-íris
de nuvem anunciada
vai chegando
nesses sons profundos
de corpo que baloiça
no compasso do vento,
transportando
tua vontade correndo
 juntando
teu sossego ao meu

Sfsousa/olharomar

terça-feira, 6 de julho de 2010

Foz


Quis sentir no corpo o poder das brisas e das marés, tropecei na foz do douro, eram cerca das 14:15 dum qualquer dia de verão.

O vento tocando as águas refreia a vontade do rio entrar no mar e parece que vai recuando sem a certeza do seu beijo ter tocado as águas verdes e salgadas.

Parei nesta avenida da Foz, poiso de quem quer não sentir, não pensar.
Olho as pessoas passando, a pé, de bicicleta, deixando o corpo voar e sentir esta maresia que sempre nos desflora, trazendo seu destino no vento.

Nesta beira rio, aproveito o silêncio das águas calmas e brilhantes, uma estatua ao fundo de asas recolhidas nos faz sentir porque não levantamos voo quando a dor nos abraça.
Os barcos estão refugiados noutro cais, do outro lado do rio e sigo a marcha cadenciada de alguém que passa por mim, em direcção à foz, até que não o consigo enxergar.

Os minutos passam, espero uma chamada que me acorde para a realidade e desbloqueie os sentidos.

Aqui faz calor, as gaivotas pairam sem esforço sobre o leito do rio e mo emprestam, como se ele fosse só meu e eu o tentasse agarrar na ilusão de poder colher os seus amores, as suas vidas desacompanhadas e enviá-los com esperança até à foz.

Paira uma sonolência que me obriga a fechar os olhos e a reviver o passado, sinto o corpo e a alma abertas, esperando que alguém me toque e me faça sentir, acordando dessa sensibilidade que nos imobiliza.

A praia ali tão perto e eu imóvel, sem conseguir lá chegar, é o vento que  não me deixa entrar no seu mar e me devolve ao rio, em ondas serenas e doces de marés adormecidas.

Serafim Sousa/olharomar