sexta-feira, 24 de julho de 2009

QUE...

Que a lua

se aproxime

E seu véu

a terra cubra

Metade de mim

é aurora,

a outra metade

penumbra


Que os homens

se perdoem

da destruição

deste mar

Metade de mim

é terra,

a outra metade

teu lar

Sfsousa/olharomar


sexta-feira, 17 de julho de 2009

Que....






Que a humanidade
reclame das guerras
do ódio sem sentido
às ruas atirado
Metade de mim
é pranto
a outra metade
soldado

Que a musica
que oiço distante
seja musica
que não acabei
Metade de mim
é esperança
a outra metade
nem sei
Sfsousa/olharomar
foto de Augusto Pombo

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O fogo final


Entretanto surge a meia-noite,
0 inesperado toque das badaladas à espreita,
a música amparando seu embalar e seu ritmo,
as pessoas fugindo para outros sítios onde pudessem desfrutar
do tão esperado fogo de artificio
já que festa sem fogo de artificio de orgulho para todos,
não é festa.

E nós lá fomos
na procura de um bom lugar para admirar o lançamento dos foguetes
nos quedamos pela roda da igreja,
num varandim com vista para a rua,
um plano superior onde se avistavam as pessoas,
os seus cumprimentos e saudações,
os candidatos a políticos agrupando-se num riso desnecessário
em conversas sem sentido,
para se tornarem notados,
esperando que o fogo de artificio lhes traga o valor do oiro e o brilho das estrelas,
mas não,
são simples humanos e a multidão que por eles passa nem os reconhecem
…triste manifestação de intenção política e de aproveitamento popular,
nas derradeiras tentativas para serem apreciados e vistos,
como se os valores da vida e da personalidade
fossem festa e balança por um dia.

Eis que surge o fogo por todos esperado,
o primeiro foguete,
um enorme petardo que até assusta
desperta os animais recolhidos na sua toca
dando inicio ao fogo-de-artifício,
as pessoas todas de olhos postos no céu,
abrindo a boca de espanto
sempre que surgia novo foguete
com nova cor ou novo desenho no céu
e foram muitos foguetes,
desiguais e de cores diferentes que surgiram nesse céu negro,
como se bailassem diante dos nossos olhos em coreografias de estrelas
e nós seguindo seus sons e seus rastos
até se perderem no ar e no pensamento,
dissolvendo-se no céu,
mas guardados nos corações de todos,

E assim recolhendo a nossas casas,
se acabou a festa e a procissão,
ficam as memórias para sempre
e com a vontade de continuar a tradição da nossa terra e nosso viver,
partimos de novo para os braços do nosso amor
e para o ninho do nosso querer.

sfsousa/olharomar

domingo, 12 de julho de 2009

a musica e a alegria



Ao fundo o palco montado

esperando a actuação dum grupo de musica de baile,

sobejamente conhecido da maioria das pessoas,

de nome artístico Diapasão,

a praça ondulava com esse mar de gente

que bailava aqui e ali,

acotovelando-se e sorrindo,

enquanto outros chegavam com a pressa imensa

de se poderem lançar um passo de dança

antes que a música se acabe


E chegou imensa gente, pessoas de todos os lados,

gente de todas as profissões e estratos sociais,

todos dançando ou se mexendo, dando asas à sua alegria,

por momentos desprendidos do peso do trabalho ou obrigação,

dançando sem medo ou receio de se perder num passo de dança

ou trocar seus passos

…é a dança popular no seu melhor.


A música surgindo em catadupa,

cantor quase sem sossego e voz sem descanso

soltando essa música que entra no ouvido

e obriga o corpo a mexer,

embalando a vontade de dançar,


Nota-se em muitos casais a vontade de participar,

olhando-se nos olhos e movendo o corpo

como se seu corpo atraísse o outro corpo,

desejoso da dança e do movimento


Não escapando imune a esta magia e confusão,

agarro na Delfina com uma mão,

puxo seu corpo e rodopio no meio de tantos corpos,

encostando a minha cabeça à sua,

tentando acertar meu passo com a música e com o coração,

bailamos levemente enquanto a música toca,

os pés parecendo não tocar o chão,

os corpos aconchegados nesse amor

que nos agarra e funde

...até se acabar a canção.

Sfsousa/olharomar

sábado, 11 de julho de 2009

O cair da noite

As pessoas regressando a sua casa,

esperam o cair da noite para de novo se largarem na rua

e desfrutar desta festa de encerramento com perspectivas de alegria no seu seio

e eis que a noite se aproxima,

as luzes e os arcos festivos iluminam as ruas que cercam a igreja matriz

e nos faz sentir que o dia roubou um dia ao seu descanso

e nesta data nos cobre de luz.


Todas as ruas convergem para o adro da igreja onde está o palco montado

e as barracas de venda de bugigangas, brinquedos e balões

animam a criançada,

as barracas de farturas e doces regionais

fazem as delícias dos adultos.


Mais longe os carrosséis rodopiam

em corridas psicadélicas e música estonteante

escondendo o barulho dos seus movimentos

e as crianças reclamando aos pais,

puxando das saias às mães

fazendo birras ou pedindo todo o tipo de atenção para poderem,

nem que seja por uma vez, rolar no carrossel de cores brilhantes,

que neste dia nos remete a outras vidas e passado de recordações.


No adro da igreja, perto da entrada da antiga casa paroquial,

uma tômbola tenta vender artigos oferecidos pelos paroquianos

na ânsia da angariação de fundos para a realização das obras da igreja,

que neste momento e com este pároco

começam a tomar forma e a serem realizadas,

na tentativa de recuperar os salões da Cripta,

palco de sempre das varias formas de cultura que despontavam na freguesia

e de intensa actividade cultural aí realizada,

até há bem pouco esquecida.


Sfsousa/olharomar

foto de Julio Lemos

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Outras faces da devoção


Chega a religiosidade terrena,

o palio albergando o padre e a divindade,

as pessoas se baixando, ajoelhando,

quando o discípulo do Senhor passa,

sua devoção demonstrando

numa clara manifestação de fé

e de respeito ancestrais


Um pouco atrás

as figuras representando as forças ditas vivas da freguesia e do concelho,

outras ainda tentando via eleições,

se acomodarem aos lugares públicos

e manter os seus rendimentos e tachos,

algumas definhadas,

mas tentando neste dia mostrar algum alento,

sobretudo os políticos já que as eleições autárquicas se aproximam

e há que se apresentar ao povo neste dia

para se tornarem notados e vivos,

na tentativa de anestesiar a memoria das pessoas,

mesmo que nos últimos anos se tenham sobejamente esquecido delas,

da vila, dos melhoramentos e da qualidade de vida,

e sorriem para o povo que cerca a procissão,

sorriem para um lado e para o outro,

para as pessoas que nas varandas das casas

vão acenando sem os reconhecer,

são sorrisos amarelos,

sem uma ponta de seriedade ou confiança,

sorrisos vazios de verdade e de esperança

e nesta mentira envergonhada

alguns pedroenses vão virando a cabeça e sorrindo

num gesto de desinteresse patente,

outros, saudando-os

como se a importância de estar perto dum politico

e manifestar qualquer tipo de cumplicidade e dedicação,

fosse o alfa e o ómega da sua existência.


A terminar surge a banda de música da terra,

com os acordes e melodia conhecida de todos,

sempre igual, nesta marcha repetida,

mas que sempre nos toca pois é a procissão da vila

e a homenagem ao nosso santo padroeiro

que uma vez por ano desperta

abraçando sua terra e sua gente,

recolhendo suas homenagens e suas dádivas.

A procissão passou e os santos recolheram ao seu refúgio,

cumprindo a sua obrigação de religiosidade e, se retirando,

voltam de novo ao seu sono celestial,

recuperando forças para receber os pedidos de todos os devotos

e poder em descanso eterno, voltar de novo para o ano,

com nova pujança e com nova esperança

que a humanidade dê a mão

e não desperdice sua vida e seu amor.


sfsousa/olharomar

foto de Karina Bertoncini


quarta-feira, 1 de julho de 2009

2009-06-29 noite lírica em S. Pedro da Cova






Hoje a música entrou no meu corpo
e devorou minha pele como fogo incontrolado,

Saí de casa e à suave brisa que corria nos campos
entreguei meus pensamentos
comecei a andar na noite,
a Delfina acompanhando o vento,
em passo apressado
como se a lua de nós se despedisse
e em breve escapasse,
saímos disparados para o imprevisto,
caminhando sem pensar,
roçando esquinas de ruas
há muito perdidas nas nossas memorias,
e vagueamos por caminhos de mineiros,
bairros operários onde ainda hoje se sente nas pedras das ruas
o trabalho duro, o esforço pesado e esgotante,
a força inigualável da vontade deste heróis das minas,
presente nos cheiros das casas e nos labirintos das vielas,
as almas dos mineiros que sempre nos acompanharão
seguem-nos com o olhar
iluminando o caminho e as calçadas
para não nos perdermos
tomando conta de nós
e aconchegando-nos nos abraços da brisa serena
embalam nosso orgulho e nossas memórias
Percorremos grande parte de ruas cujos nomes não sabemos,
num passo apressado,
passando por outras ruas e outras casas que a vida abençoou,
chegamos à nossa igreja,
aberta neste dia de S. Pedro,
padroeiro da nossa freguesia,
a porta disparando raios de musica e cor
brilhando nas asas dos anjos
fugindo dos seus altares,
sempre que a voz da cantora lírica explodia no ar,
esvoaçando de prazer celestial
o coração nos convidava a entrar
…um agrupamento dirigido por um maestro da nossa terra,
uma voz feminina fantástica,
anestesiava nossos sentidos
deixando fluir a musica e o sonho
nas melodias que nos arrepiavam
sempre que emprestava a sua voz às notas
que dos instrumentos saltavam

Foi um acabar de noite inesperado e belo.

Sfsousa/olharomar