quarta-feira, 30 de maio de 2007

A UM AMIGO - SÊ FELIX


Escrevo hoje o que ontem me ficou para este amigo que se foi mas que não partiu

29 de Maio de 2007

Hoje como habitualmente fui para o ginásio para cuidar do corpo e limpar a mente mas não estava bem, comecei a fazer alguns exercícios, as maquinas estavam lá, o corpo também, mas a cabeça não …voava por outros lados, as mãos suadas apertavam com força os movimentos compassados do corpo mas não… não podia estar ali, a tristeza chegava vestida de negro, pesada, cúmplice deste dia cinzento de Inverno mal amado e penso num amigo que ontem se finou, jovem… e a revolta no meu peito desfilava, eu não estava lá, precisava de algo escrever já que em silêncio as minhas palavras se ficaram.

Senti a revolta dos anos loucos da juventude dos atropelos cometidos, das danças inebriantes das trocas inocentes, dos festivais de verão acabando em noites sempre inacabadas e prontas a serem retomadas no próximo verão que chega como se nada se tivesse passado, senti o peso duma jovem geração louca como todas são, mas que viu amigos mais novos filhos de todas as mães caírem no desespero acossado do desejo de alcançar o inatingível e acabar inevitavelmente perdidos, dependentes da cura que não chega, dos horizontes cada vez mais pequenos, dos amigos que fogem, das mãos que não nos apertam e fogem, dos abraços que não pedimos mas sempre esperados, em cada dia as ilusões da juventude em vão criadas são cúmplices das loucuras, ardendo em nossos corpos, irreparáveis.

A um amigo que caminhou por todas as pedras destas calçadas que por elas caminhou perdido e desesperado finalmente tendo descoberto que a vida tem que ser respeitada, descobriu tarde essa lição que nos é ensinada por professor nenhum mas em vão tardiamente respeitada.

Eras amigo do amigo,

alegre até dizer basta,

alegravas a festa quando chegavas

mas caíste nas teias de lamentos idos,

de sorrisos perdidos,

de sexos de acaso,

nas aventuras sem sentido,

sonhos jamais lembrados

outros perdidos,

inocência reclamada

duma juventude desgarrada,

que a tudo se pegava,

querendo viver a vida a correr

pensando que a vida é demasiada

mas não pois a vida também se acaba,

maltratada nas ruas

nos becos perdidos escuros e sujos

das vielas onde ninguém vai,

dos bairros de lata,

dos gritos alarmantes em cada esquina,

dos policias sem farda,

perdidos,

o sangue nas veias explodindo,

a vida para o outro lado partindo,

mas ficas lembrado como foste,

amigo, alegre, honesto

e terás direito ao teu descanso

renascendo do outro lado

tal Fénix que te dará vida

a outros fogos resgatada

e nesse outro lado

amigos novos chegarão

para contigo privar

e companhia te farão

e aí estaremos,

outros corpos, noutras mentes

noutras coisas transformados,

mas sempre em alegria

e contigo ao nosso lado.

Revolta

Rodopio de ventos loucos

Vida a correr vivida

Em cada noite perdida

Alucinante juventude

De festejos demasiados

Revolta

Marcando teus medos

Vagueando fugias

Sem pensar se ficavas ou partias

Refém dos teus segredos

Revolta

Nesse corpo adormecido

Suave de riso contido

Moras aqui mesmo ao nosso lado

Teu sorriso sempre lembrado

Revolta

Foste louco bastante

Para a vida colocares

Numa roleta disparatada

De viver tudo ou nada

Revolta

Ocasiões de sonho recordadas

Para sempre guardadas

Lembranças boas iluminando

Teu corpo em descanso


Revolta

A tua madrugada acabou

A vida fugiu da tua mão

O dia nasce e já não volta

Bateu á tua porta e ficou

DEDICADO AO FELIX (ZE MANEL) A QUEM A VIDA FOI RESGATADA NO AUGE DA JUVENTUDE