Nesta terra que tende a esquecer as suas referências ou a não valorizar as suas memórias, o cavalete do Poço de S. Vicente é hoje monumento de interesse público – um marco de recordações que se perpetuará, reflectido nessa montanha de carvão que o precede, será luz de futuras gerações sobre os sofrimentos aí infligidos, as doenças que cercavam os corpos dos mineiros, as forças que se acabavam com o romper do dia e as imensas vidas perdidas fora de tempo.
Presto a minha homenagem à minha terra, aos mineiros que na mina soçobraram e a todos que pela sua coragem vestiram sua pele e lutaram pela sua vida e dignidade:
O céu abre a sua parte rebelde
nos dedica a sua parte soalheira
desalento em carvão de madeira
manhã manchada de nevoeiro
que chega em solenidade
despojada nos teus pés de santo
és terra de negro vestida,
de carvão trajada,
de vontade imensa de lutar,
de trabalhos árduos,
das bocas secas em poços sem fundo
de liberdades inalcançáveis
da luz do dia ao fundo do túnel
dos canais irrespiráveis
E nossos pais e avós
lutando em desespero
por um pedaço de dignidade
um bocado de pão
esperando alguém santo ou não
lhes desse a mão
e um suspiro de liberdade
sfsousa/olharomar