sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Nave Redonda do Cerro–Alentejo (férias 2014)

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Desta vez as delicias das férias e do verão transportaram o meu desejo para sul, tal ave de arribação procurando seu ninho e sua felicidade.
Deixamos para trás as planícies áridas e secas do Alentejo interior, dos cheiros e sabores imensos que sempre nos consolam a alma. 
Desaguamos nesse cantinho, algures verde, algures seco, que contempla enleado a serra que nos vai franqueando os cheiros da maresia que se esvai nas praias de areal brilhante quando o mar toca a nossa costa algarvia que está já ali, tão perto de nós.
Depois de algumas paragens pelo caminho para apreciarmos este nosso pequeno país, mas de riquezas imensas, chegamos a Nave Redonda, um pequeno lugar da freguesia de Saboia, encostada à serra, que nos emprestou seu cerro por uns dias.
Ficamos surpreendidos com a beleza nua da paisagem e do toque brilhante das suas gentes, que sorriem quando passamos e nos saúdam com a sua simpatia e seu coração aberto. 
São a nossa gente, a sua melhor essência e por isso, esse nosso grito sentido transportando o orgulho genuíno de ser português se vai multiplicando sempre que deixo a minha alegria divagar pelos montes, pelas campinas, pelos campos áridos do Alentejo ou pelas montanhas e serras abruptas do norte, conhecendo as nossas gentes que se vão mantendo fieis às suas tradições, ao seu natural e inexplicável saber de sempre receber bem quem por bem se acerca e abre seu coração.
Por aqui ficamos, deambulando pela propriedade que nos permite abraçar novas descobertas, nos delicia com novos cheiros e novas cores, é o Alentejo encostado à serra e ao sul nos confortando com seu calor diferente e único.
Voamos pela propriedade, desfrutamos dos baloiços do parque das merendas, ficamos hipnotizados pelas sombras dos sobreiros e seguimos o voo dos pássaros que fugiam do calor do sol, se refugiando no aconchego das sombras, tal como nós.
O silêncio acompanha-nos durante os passeios pedestres, os sobreiros mais velhos vigiam a nossa passagem e nos reconfortam com sua sombra oferecendo-nos os seus abraços e, no alto do monte, quando abrimos os braços e fechamos os olhos, sentimo-nos flutuar entre o calor do dia, a poeira das vidas que neste monte existem e repartem suas alegrias e experiências connosco.
Os cheiros entram no corpo e nas narinas, seguem direitos ao pensamento e à imaginação, baloiçando os sonhos que vão deambulando por entre histórias de beleza e colorido imenso, de arrepios de prazer e simpatia.
Recordamos com intensidade os momentos por vezes sós, como estes montes, mas plenos de histórias e de sensações que não conseguimos repartir, são momentos que unicamente se sentem quando estamos presentes sentindo a terra e nos toca essa brisa quente ou aquele fresquinho que ultrapassou a serra e nos chega do outro lado do mar para nos consolar nas noites em que as flores adormecem e os ralos cantam.
À noite, como todas as noites, o céu abre a sua porta e nos regala com os seus melhores presentes e, nas noites mais negras quando o céu brilha de intensidade, as estrelas vão reluzindo de brilho, piscando seus olhos a outras estrelas que passam e nos mostram toda a sua força e esplendor. São imensas, tantas que a nossa imaginação não as consegue contar mas desenham suas vidas nesse céu negro e obrigam as nossas almas a voar, aqui no Alentejo onde irradiam suas luzes, partilham suas vidas e suas ilusões nos convencendo também a sonhar cada noite que a escuridão nos beija.
No final da tarde, quando descemos do cerro para o restaurante mira serra, esse restaurante que nos abre suas portas e iguarias e nos desafia sempre a voltar como se a vontade já não nos pertencesse. A comida caseira, de sabor inigualável preenche os nossos momentos de alegria, de companheirismo e riso debruçados sobre a mesa, regalados com novos sonhos, aprofundando amizades ou preparando nova viagem.
O tempo vai passando morno e apaixonante ao ritmo desejado das férias, relaxante e desafiador. A piscina bordejada de verde, cativante de cor, nos convida a entrar e a desfrutar do prazer do momento mas, aproximando-se o dia da partida, faz-nos reviver a chegada e os momentos de descanso aqui passados. 
Um lugar já retido na memória de todos e a revisitar sempre que a nostalgia nos rodeie e a saudade da aventura nos aperte.
Até um dia…
sfsousa/olharomar