sexta-feira, 22 de junho de 2018

Visita ao Parque de Noudar - Set 2017



Ao ler hoje  uma noticias sobre o parque de Noudar, não queria de deixar expresso que tive a felicidade de poder visitar este parque, infelizmente por muito pouco tempo pois as obrigações de trabalho de alguns colegas assim não permitia no entanto e, tendo descrito parte da nossa viagem, como vem sendo hábito ao longo de alguns anos de férias juntos, não quero deixar de repartir parte do que foi escrito sobre esta beleza perdida nos confins do nosso Alentejo, encostado a Barrancos e a Espanha:
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Finalmente…antes de Barrancos a placa indicativa, Parque Natural de Noudar. O esforço, o cansaço já nem se sentia, cheirávamos o aproximar da razão da nossa viagem e seguindo adiante de ruas estreitas, uma ponte, branca, como só o Alentejo imagina, atravessa um pequeno rio e permite o atravessar de um só carro…entramos e a indicação da placa 7 e poucos quilómetros até ao destino seria feito em caminho de terra, sem alcatrão, parecia que estávamos a entrar num mundo isolado, fechado e por descobrir. 
E fomos conduzindo devagar, apreciando a beleza dos sobreiros que abundam na herdade, alguns com a idade bem marcada nos troncos secos, mortos, mas com desenhos que nos desafiam a olhar para dentro das suas vidas e descobrir as suas historias e seus cantares, outros novos, verdes, alegrando a paisagem, várias perdizes aparecem no caminho, passeando diante de nós e levantando voo quando nos acercamos. A paisagem continua plantada de sobreiros, oliveiras e de verde pois neste parque que é penetrado por 2 rios pequenos (um deles o Ardila, de memoria fácil pois emprestou seu nome ao vinho que iriamos desfrutar durante a nossa breve estadia), o castelo de Noudar ao longe surgindo nos dá vontade de seguir em frente e realizar uma pequena visita mas, a chegada tardia e a casa principal, branca, reflectindo no cimo do monte a sua beleza que contrastava com o céu azul, obrigava os sentidos a querer chegar, visitar as acomodações, tomar um banho relaxante e prepararmo-nos para o jantar no restaurante o Pançudo, marcado para as 20h30.
O check in realizado em 3 tempos, rápido eficaz, a recepcionista eficiente e diligente, se apercebendo do nosso cansaço e desejo de nos acomodarmos, imediatamente dispôs de todas as chaves e nos levou á Casa principal, casa com 6 quartos, 1 cozinha e 1 sala, toda ocupada por nós, estávamos relaxados, sós, com uma paisagem única, com um silêncio e um cheiro que só este calor verdadeiramente alentejano consegue transportar no ar e nos tocar o corpo e o desejo de nos perdermos por aqui.
Depois de nos arrumarmos, de nos cuidarmos, finalmente relaxados e respirando Alentejo, nos deslocamos ao restaurante o Pançudo, existente na propriedade, que visto a nossa marcação do jantar, com escolha do menu antecipadamente, foi só chegar, sentar, servirmo-nos das entradas únicas alentejanas, do paio, do azeite, dos queijos, da simpatia da gente que nos foi servindo e, quando chega o prato principal, o vinho Ardila, tanto branco como tinto, foi um verdadeiro prazer.
A confecção dos pratos extremosa, cuidada, com simplicidade mas com um gosto distinto e sabores inigualáveis. 
Os sabores excelentes, a comida fresca e de sabores únicos deste nosso cantinho no Alentejo, nos fundiu a razão e todos em uníssono acordamos que teríamos que marcar novo almoço e jantar aqui, não valendo a pena sequer levantar voo deste sitio…seria só desfrutar do silêncio, do vento, da qualidade de excelência do restaurante, da paisagem que nos fixava nos olhos e nos levava a sonhar para lá dos montes e da realidade dura da vida, estivéssemos na piscina ou nas nossas varandas, nos transmitiam os seus sons e odores e, imaginávamos o calor ou dor de toda a gente que por aqui passou, as suas aventuras e desejos que no vento continuam a enviar para que sejam recolhidos e interpretados em cada corpo toda a profundidade que o silêncio reflecte em cada um, tornando só seu, único e que ninguém o pode modificar ou tirar.
No dia seguinte, já um pouco mais recuperados e por sugestão da recepcionista, sempre atenciosa e pronta a ajudar em caso de qualquer dificuldade, fosse necessário o que fosse, era só ligar e lá estariam para nos ajudar e, com a certeza desta disponibilidade de cooperação nos metemos ao caminho, de manhã, não tão cedo quanto devíamos, em direcção ao Castelo de Noudar, dentro do parque e, por caminho de terra, caminhando, olhos fixando o Castelo ao longe, desfrutando da beleza da paisagem sempre única, admirando os velhos sobreiros, já em fim de vida, imaginando quantas historias teriam por contar ou foram contando aos longo da vida aos caminhantes ou animais que deles se acercavam, alguns de forma imperfeitas mas belas, alguns fugidios, outros agrestes, outros violentados pelo tempo e pela idade, obrigam o nosso consciente a inventar historias e a tentar adivinhar suas forças e seus destinos. 
A chave do Castelo foi-me entregue pois nesse dia de Sábado, estando fechado a turistas, teríamos que ser nós os seus verdadeiros donos e maravilharmo-nos com as suas vistas sobre o horizonte que não tem fim, admirar o contorno dos rios que na planície á sua volta beijam as margens e dão vida à vida, ao renascer e ao saciar da sede a todos os animais, alguns selvagens, que aqui se albergaram e constituíram seu lar e sua segurança (o lince ibérico, o veado, a perdiz, algumas aves de rapina). 
Apreciamos o Castelo, com obras de restauro que se irão arrastando obrigatoriamente e, depois de uma caminhada dum só sentido, retomamos a descida para a nossa casa e nosso lar, desejosos de aí chegarmos, cansados e suados, para podermos desfrutar do prazer da piscina que quase tocávamos dos nossos quartos e varandas e então mergulhar o corpo nessa água que nos arrefecia o corpo, nos abraçava os sentidos e por breves momentos, estando todos os amigos reunidos na piscina, desfrutando desse prazer único, brincamos como crianças e nada mais valia que o simples gozo desse momento. 
A piscina com uma vista magnifica para o monte e vale, merece mais que um mergulho ou um ligeiro banho e a água deslizando pelos nossos corpos nos despia de saudades, nos livrava dos problemas e somente nos amava, nos molhando com este silêncio que com o aproximar do final da tarde transporta algo de mágico na sua cor deslizando no horizonte e nos faz sentir quão felizes somos e nos sentimos.
À noite, depois de mais um repasto de excelência no restaurante o Pançudo e um passeio breve, recolhemos às varandas e conversamos sobre a vida, sobre os momentos que vamos passando e, com o aproximar da noite mais densa, onde só as estrelas do céu se sobressaem ou uma ou outra luz ao fundo, eis que os veados soltam seu brama e mais que uma vez se ouviu este chamamento, longínquo, algures escondido no vale, provavelmente junto ao rio, chamando sua fêmea e para nós, nesse silêncio profundo, escutar este som nunca ouvido e seguramente não esperado, nos faz sentir ainda mais orgulho pelo destino escolhido que mantem sua identidade, sua simplicidade e sua natureza selvagem.
É de consenso geral que deveríamos ter ficado mais alguns dias mas, a crueza e realidade da vida nos obriga a tomar consciência que o amanhã é o recomeçar do voltar à vida real, ao trabalho, à companhia das correrias do dia-a-dia, em que o apreciar da vida, correndo depressa, não se consegue saborear como este silêncio e estes cheiros que voando no vento, penetram nossos poros e nos relaxam sem pressa e sem amanhã, só o momento vale, apesar de breve é único e precioso.
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