sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Até um dia Cabo Verde... até um dia

CABO VERDE

Hoje resolvi escrever sobre Cabo Verde, uma visita apressada á Ilha do Sal, bela e assustadora, plena de sol e de chuva sedenta, presenteando a nossa chegada com um sopro de calor dessa Africa selvagem, que nos vai rodeando e de humidade nos reveste.

Saída do aeroporto e lá está a nossa guia, simpática como todos os locais, dirigindo-nos para essas carrinhas antigas com atrelados a recolher as malas, e lá vamos nas camionetas desengonçadas que nos surpreendem como ainda se vão conseguindo mover nesta noite negra e de luzes abandonadas, certamente terão imensas historias para nos contar dessas suas inesquecíveis viagens.

Primeiro dia, aproximação e surpresa pela beleza do que foi erigido em tão árido local, as pessoas simpáticas, a mesma língua nos acompanhando e assim lá fomos desenvolvendo conhecimentos, gozando em pleno os nossos corpos nessas areias brancas e águas tão límpidas, transparentes e insinuantes, reclamando nossos corpos para as suas ondas nos poderem beijar.

Resolvemos fazer uma viagem de reconhecimento ás miragens e olho de água e lá nos metemos ao caminho nos jipes alugados para o efeito e lá fomos cabelos desgarrados, um lenço para trás deixado, um boné que da cabeça fugiu e não parou, por lá ficou, quilómetros percorridos em terra batida sem nada em redor, as arvores e vegetação fugiram pois a água as abandonou, mas eis que em direcção ao mar, chegamos a um sitio belo de tão só, uma barraca de madeira isolada, vendendo suas cervejas de aparência fresca, africanos doutras paisagens, vendendo suas bugigangas e uma piscina artificial entre rochas vulcânicas esculpida.

As roupas despidas num ápice e sem muito pensar, de cabeça mergulhamos nesse mar azul e desperto, sentindo fervilhar a sua vida e a juventude deste país palpitando, lançando suas ondas de amor abraçar estas rochas perdidas no meio de nada.

Nesse caminho desbravado para ver as minas de Sal, os banhos nessa água tão densa que deixava nossos corpos em suspenso, flutuando, não conseguindo tocar o seu leito azul e denso, convivemos com alguns seniores que doutra ilha vinham, sobretudo da Ilha de Santiago, e com a facilidade imensa que a mesma língua vai acolhendo outras culturas e outras gentes, aí começamos a falar, trocar ideias, desejos e sonhos comungados por todos, nas promessas de um dia aí voltar, tocar de novos os olhares dessa gente e nos alegrar com seus olhos brilhantes de poder imenso apesar de terem quase tudo de nada.

Vimos casebres de zinco, casas desconexas e vilas de vidas adiadas por falta de possibilidades oferecidas, vimos gente, gente de sorriso nos lábios, de coração aberto, vendendo aquilo que conseguem inventar, para no outro dia carregar de novo os mesmos pedaços de nada e alegremente recomeçar.

Vimos crianças soltas brincando em união, no recreio da escola, as dificuldades para trás, rodopiando no ar uma alegria e esperança que contagia, um poder que nos abraça, uma vontade de conseguir vencer que a todos arrasta e sente-se que hão-de vencer adversidades, hão-de libertar seus sonhos e viver, viver com o encanto dessa esperança e verdade que carregam em seus olhos e nos seus rostos, e viver felizes…merecidamente.

Vimos saudade enquanto partimos, deixamos ais em vão repetidos, arrumamos os corpos e bagagens, e na quietude da viagem os pensamentos de todos se cruzaram e em uníssono o desejo de voltar ficou, cruzou os ares e se soltou… até um dia Cabo Verde…até um dia.


Escrito em 17/01/2008 antes que se dissipem as lembranças e a memória me atraiçoe (sfsousa)

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